27.12.10

La femme qui n'a plus 20 ans depuis longtemps

E este poema que tem cada vez mais sentido. O Cunningham, em "Ao cair da Noite", fala das personagens que têm quarentas (uma delas 44, como eu) como pessoas de "meia idade". Ou o mato ou ouço este Sarah...



La femme qui est dans mon lit
N'a plus 20 ans depuis longtemps
Les yeux cernés
Par les années
Par les amours
...Au jour le jour
La bouche usée
Par les baisers
Trop souvent, mais
Trop mal donnés
Le teint blafard
Malgré le fard
Plus pâle qu'une
Tâche de lune


La femme qui est dans mon lit
N'a plus 20 ans depuis longtemps
Les seins si lourds
De trop d'amour
Ne portent pas
Le nom d'appas
Le corps lassé
Trop caressé
Trop souvent, mais
Trop mal aimé
Le dos voûté
Semble porter
Des souvenirs
Qu'elle a dû fuir


La femme qui est dans mon lit
N'a plus 20 ans depuis longtemps
Ne riez pas
N'y touchez pas
Gardez vos larmes
Et vos sarcasmes
Lorsque la nuit
Nous réunit
Son corps, ses mains
S'offrent aux miens
Et c'est son cœur
Couvert de pleurs
Et de blessures
Qui me rassure

8.12.10

Dammi 100 Lire e I will survive. pertinente

... e, por estes dias, recordar os Musica Nuda, diva e contrabaixo.


Mamma mia dammi 100 lire che in America voglio andà,
centro lire e le scarpette ma in America no no no.
Suoi fratelli alla finestra mamma mia lassela andà,
vai vai pure o figlia ingrata che qualcosa succederà.
Quando furono in mezzo al mare il bastimento si sprofondò,
pescator che peschi i pesci la mia figlia vai tu a pescar.
Il mio sangue è rosso e fino i pesci del mare lo beveran,
la mia carne è bianca e pura la balena la mangerà.
Il consiglio della mia mamma l’era tutta la verità,
mentre quello dei miei fratelli resta quello che m’ha ingannà

3.12.10

Sond'Ar-te Electric Ensemble em Cascais


150 anos Portugal - Japão
Centenário da República


3 e 4 de Dezembro de 2010 | 21h30 Centro Cultural de Cascais

Este concerto pelo Sond'Ar-te Electric Ensemble procura celebrar a criação musical na perspectiva de duas efemérides importantes para Portugal neste ano de 2010.

Por um lado assinalar o Centenário da República com obras de compositores estreadas em 1910 e em 2010, pondo assim em perspectiva 100 anos de criação musical em Portugal, de Luís de Freitas Branco aos nossos dias.
Por outro lado, exaltar o intercâmbio cultural e musical entre Portugal e o Japão nos 150 anos do tratado de amizade, Paz e Comércio entre os dois países, apresentando em estreia absoluta obras encomendadas para o Sond'Ar-te Electric Ensemble a compositores japoneses e portugueses.


4 de Dezembro de 2010 | 21h30 Centro Cultural de Cascais: concerto.

Programa:

Luís de Freitas Branco, Trio para violino, violoncelo e piano (1910)


Cadavre Exquis (2010) * - António Chagas Rosa, António de Sousa Dias, António Pinho Vargas, Cândido Lima, Carlos Caires, Christopher Bochmann, Isabel Pires, Isabel Soveral, João Pedro Oliveira, José Luís Ferreira, Luís Tinoco, Paula Azguime, Pedro Amaral, Pedro M. Rocha, Ricardo Ribeiro, Tiago Cutileiro


Masataka Matuso - A Double Fiber of Resonance *

Ai Kamachi - Fairy Circle - EA

Osamu Kadowaki - Scape - EA

José Luís Ferreira - AVANT * - EA


EA - Estreia absoluta
* Encomenda da Miso Music Portugal para o Sond'Ar-te Electric Ensemble
Entrada Livre

Fotografia de Paula Azguime

1.12.10

Almost Blue



ele sabe exactamente o que fazer




she wanted to test her man


lembra-se dela antes das lágrimas



a pseudonym to fool him


vê-la feliz em mares de gente

de olhos ousados e privados



there’s a part of me that’s always true





ele massacra o músculo exacto

mensagem à mente em minúsculo acto



there’s a girl here and she’s almost me
almost doing things we used to do



quando éramos eu e tu
e not a yellow angel e um pseudónimo

flirt das estampas em que nos tornámos


but Not all good things come to an end now
it is only a chosen few

29.11.10

20.2.10

Salvatore Sciarrino

Gráfico do compositor siciliano Salvatore Sciarrino

«A me non succede di cominciare dalla prima nota e finire con l’ultima […]. Seguo un percorso di prospettiva generale, che non è assolutamente rettilineo. […] Ecco perché inseguo subito la visione d’insieme con i diagrammi di flusso. […] È una metodologia che ho messo a punto da oltre quarant’anni, e che ritengo adatta a me e al momento che stiamo vivendo. […] Un diagramma è come una partitura ‘prosciugata’ ma con delle informazioni in più. In poco spazio permette di abbracciare tutta la composizione, dall’inizio alla fine, e di avere il dominio della forma, del tempo e della relazione fra gli eventi».



O Silêncio vai instalar-se em Aveiro entre 15 e 24 de Abril.
Estejam à escuta. Vai haver mais notícias. Schuuu.

19.2.10

Salvatore Sciarrino

Lettera degli antipodi portata dal vento

Matteo Cesari - flute

5.1.10



Lhasa de Sela

Em 2005, tive oportunidade de assistir a um espectáculo de Lhasa de Sela. Comecei a ouvi-la em 1999/2000. Foi por essa altura porque me lembro que a gravidez (múltipla) das minhas filhas foi embalada pelo som e doçura das canções do Living Road. A sua morte surpreendeu-me e deixou-me triste. Relanço um post que escrevi na altura (Março 2005).


Lhasa de Sela

No início, somos muito pequeninos e por isso temos a impressão de que o espaço à nossa volta é amplo e de que todos os movimentos são possíveis. Aos poucos vamos crescendo, e então o nosso corpo começa a tocar as paredes e as mãos começam a empurrá-las, mas ainda nos sentimos felizes. Até que chega o dia em que não suportamos mais estar fechados ali, sentimo-nos condicionados e, às vezes, quase asfixiamos. De forma mágica, esse mesmo espaço começa a expulsar-nos de forma violenta. Ficamos aterrados e pensamos que vamos morrer. Mas afinal, nascemos!

Com palavras diferentes, quase soletradas em português, esta história. Contada pela Lhasa de Cela no espectáculo fantástico a que pude assistir há poucos meses. Já conhecia a música e a voz dela, mas nesse dia fiquei rendida a Tudo. até o silêncio entre duas canções me pareceu necessário.

Con toda a palavra, amigos! E vejam aqui o último álbum.

Lhasa de Sela: A nómada não canta mais

Lhasa de Sela: A nómada não canta mais
Ípsilon - 05.01.2010 - João Bonifácio

Lhasa de Sela, cantora de culto americana-mexicana que vivia no Canadá, morreu no primeiro dia deste ano, aos 37 anos. A mulher misteriosa dos discos era uma rapariga doce e esquiva, movida por um ímpeto criativo muito distante das normas habituais da indústria

Tão repentinamente como surgiu também assim partiu: Lhasa de Sela, cantora e compositora nascida em Nova Iorque, mas profundamente influenciada pela cultura mexicana, faleceu no dia 1 de Janeiro deste ano, aos 37 anos de idade, de um cancro da mama, contra o qual lutava há 21 meses. Deixou pai, mãe, irmãos, sobrinhos, e um culto de fãs indefectíveis, reflectido no milhão de cópias que os seus três discos venderam.

Desde a primeira vez que a sua voz se ouviu em disco que Lhasa surgiu aos melómanos como um ser vindo de outro mundo. Do seu álbum de estreia, La Llorona, composto a meias com o magnífico músico Yves Desroisiers, constavam apenas baladas cambaleantes, que versavam mitos pagãos mexicanos, amores de faca e alguidar, o sangue, a morte e as cartas que trazem a fortuna e a desgraça e nos traçam o destino.

Era um disco centrado na guitarra acústica de Desroisiers, com apontamentos de acordeão e banjo, mas que estava longe de ser "bonitinho", muito por força da voz de Lhasa, que dominava - ou assombrava, se quisermos ser exactos - cada canção: possuidora de uma voz grave mas ampla, Lhasa tão depressa conseguia soar ébria como apaixonada como vingativa como sensual. La Llorona cantava os mais velhos dos assuntos e Lhasa cantava-os como se existisse desde sempre, como se aquelas canções estivessem ali, há séculos, à espera de serem ouvidas. Não parecia ter 26 anos: parecia ser mais velha que Chavela Vargas, a diva mexicana com quem na altura foi comparada. Podia ter uma voz de veludo, mas aquele veludo conhecia todo o tipo de nódoas.

Irrequietude natural O êxito de La Llorona foi rápido e surpreendente, em particular tendo em conta que em 1997 o mundo não estava propriamente virado para canções acústicas cantadas em espanhol. Mas além das canções, a própria Lhasa contribuiu para o sucesso do disco: não só era tremendamente bonita como tinha igualmente uma história pessoal incomum que contribuiu, nesses dias pré-YouTube, para o mito de "mulher misteriosa" que sempre a seguiu.

Filha de pai mexicano e mãe americana-judia-libanesa, Lhasa não cresceu como a maior parte das raparigas. Os seus pais eram nómadas, e ela passou os primeiros anos de vida com eles e os irmãos on the road entre os Estados Unidos e o México. Todas as noites, em vez de ver televisão, os irmãos faziam um teatrinho ou cantavam. Isto marcou-a ao ponto de após a digressão de La Llorona se ter juntado a um circo em França.

A sua história de vida valeu-lhe o epíteto "cantora nómada", mas quem teve oportunidade de privar com ela tem a impressão de o nomadismo não se dever a uma qualquer mania aventureira, antes a uma irrequietude natural e à incapacidade de conviver com a indústria musical. Numa entrevista à Roots World, na altura do lançamento do seu segundo disco, The Living Road, em 2003, Lhasa confessava que depois da digressão do primeiro disco abandonara tudo para ir para França porque se sentia "a morrer". "Fiz tudo menos rapar o cabelo e tornar-me freira", acrescentou. A vida no circo, rodeada de alguns dos irmãos, era simples e repleta de tarefas, o que lhe agradava: "Acordo todos os dias com a minha sobrinha a dizer-me que me ama", dizia, com candura.

The Living Road era um disco mais complexo, com guitarras, banjos, melódicas. Mesmo sendo um disco mais opulento, com arranjos imaculados, soava ainda a uma carroça a desconjuntar-se na beira de uma estrada poeirenta, e voltou a merecer os encómios da crítica.

Vasco Sacramento, produtor musical, convidou então Lhasa para uma digressão em Portugal por alturas do seu segundo disco, The Living Road, digressão que na altura acompanhámos. Sacramento disse ontem, numa nota à imprensa, que "Lhasa de Sela não estava interessada no estrelato, na fama ou no dinheiro". Acrescentou ainda que Lhasa "parecia que cantava apenas por imperativo de consciência, sem grandes preocupações com estratégia de mercado", antes de lembrar, num toque mais pessoal, que Lhasa lhe falava sempre do bacalhau que comera em Xabregas.

Intensidade assustadora. Lembramo-nos do bacalhau em Xabregas, mas acima de tudo confirmamos essa impressão de que Lhasa cantava apenas por imperativo de consciência. Lhasa revelou-se ao início uma mulher distante, sempre acompanhada dos seus cadernos, com dificuldade em posar para fotografias. Não gostava que lhe fizessem muitas perguntas e no entanto, uma vez ganha a sua confiança, percebia-se que a sua distância era uma timidez congénita.

Tinha o hábito de ouvir mais que falar e observava tudo à sua volta com uma intensidade que podia ser assustadora. Sabia deixar-se aproximar (deixou-nos conversar com a sua mãe, em quem depositava extrema confiança), mas precisava do seu momento de isolamento: antes do concerto da Aula Magna arranjou um cantinho onde fazer ioga sem ser perturbada pela banda ou por jornalistas - só a mãe podia estar ali com ela. Era sem dúvida reservada e intensa e tão doce quanto, ao que nos pareceu, assustada.

O terceiro disco, Lhasa, do ano passado, cantado em inglês, nunca foi devidamente promovido e já foi afectado pelas condições de saúde. Por esta altura já Lhasa colaborara com os Tindersticks e com Arthur H, cantor francês, e era um nome mais que firmado. Segundo os seus representantes, Lhasa, que só conseguia fazer o que queria, como queria e quando percebia o que verdadeiramente queria, tinha planos de fazer um disco com temas de Violeta Parra e Victor Jara.

A andarilha morreu. O seu site,
Lhasadesela.com, abre com uma fotografia dela, de costas, o rosto encoberto pelo cabelo a esvoaçar ao vento. Em fundo há uma longa estrada. O salmo dizia: "Não serás como a palha que o vento leva." Lhasa teve a coragem de o ser, e foi maior por isso.