30.5.05

Já sonho com Ngorongoro XVI (Grand Blue)


Joris van Daele

Ninguém conhece a história da próxima aurora.
(provérbio africano)

Ontem sentei-me no jardim a falar com o Andwele. Tu dormias, assim como o Bagaço, e nenhum sonho parecia querer despertar-vos. Pedi-lhe que me falasse da sua aldeia. Ele falou num tom sério, falava de saudade e de desgosto, mas terminava sempre todas as frases com uma nota de alegria. Não me cansava de ouvir falar de Magadi. Os olhos dele ficavam cada vez mais límpidos, e através dos seus olhos, também os meus. O Andwele tem uma boca bonita e um sorriso gracioso, emana paz. E assim com ele, pouco a pouco, xhuia-xhuia, a paz voltou.
Por volta das seis horas da manhã, acordei com o pássaro que canta debaixo da minha varanda. Existe uma gaiola dourada enorme e sobre ela pousa sempre esse pássaro. É uma ave canora rara. Pensei decidiu desafiar o mundo tomando posse dessa gaiola. E com esse pensamento, descobri que sorria novamente.

Depois o reflexo desta luz, deste amanhecer nas águas da piscina. E não resisti a apossar-me dela. Durmam todos e que nenhum sonho vos desperte. Não quero tudo. Só este momento. Assim.

Ouço ao longe uma música.



Banda sonora de Le Grand Blue

26.5.05

A Divina

Afinal também vão poder ouvir a interpretação da Divina Callas

Mon coeur s'ouvre à ta voix



E quem resiste?




Mon coeur s'ouvre à ta voix


Keith Nicolson

Sansão e Dalila

Eu disse que era a mais bela das canções de amor. Não a consegui encontrar cantada pela Maria Callas. Para compra, é obrigatório que seja ela. Hoje, aqui, vamos ouvir Cindy Boote. Mon coeur s'ouvre à ta voix. A canção de Dalila.

Mon coeur s'ouvre à ta voix


Mon coeur s'ouvre à la voix, (My heart opens to your voice)
comme s'ouvrent les fleurs (like the flowers open)
Aux baiser de l'aurore! (To the kisses of the dawn)
Mais, ô mon bienaimé, (But, o my beloved)
pour mieux sécher mes pleurs, (To dry my tears the best)
Que ta voix parle encore! (Let your voice speak again)
Dis-moi qu'à Dalila (Tell me that to Dalila)
tu reviens pour jamais, (You will return forever)
Redis à ma tendresse (Repeat to my tenderness)
Les serments d'autrefois, (The oaths of other times)
ces serments que j'aimais! (the oaths that I loved)
Ah! réponds à ma tendresse! (Ah! respond to my tenderness)
Verse-moi, verse-moi l'ivresse! (Pour out to me the drunkeness)

Ainsi qu'on voit des blés (Like one sees the wheat)
les épis onduler (the blades undulate)
Sous la brise légère, (Under the light breeze)
Ainsi frémit mon coeur, (So trembles my hear)
prêt à se consoler, (ready to be consoled)
A ta voix qui m'est chère! (by your voice which is dear to me)
La flèche est moins rapide (The arrow is less quick)
à porter le trépas, (to carry death)
Que ne l'est ton amante (Than is your love)
à voler dans tes bras! (to fly into my arms)
Ah! réponds à ma tendresse! (Ah! resond to my tenderness)
Verse-moi, verse-moi l'ivresse! (Pour out to me the drunkeness)

18.5.05

Does every one know? II

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James Wolfe

A banda a que está ligado: Jettatura. Mas aqui, ouvimos alguns dos seus trabalhos a solo. Wolfe sang, wrote, and played all the guitars and bass on these tracks, which were recorded at Rebar Sound in San Francisco, with percussion work from ex-Creeper Lagoon drummer Dave Kostiner, and keyboards by ex-Big Blue Hearts pianist and organist John Krogh.


Unravelling

Ouçam unravelling mas entrem na rave. a música é boa. a template não mata. e eu sou um homem.

16.5.05

Does every one know?

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James Wolfe

Este cantor-compositor nova-iorquino tem um som Beatlesiano, ou Elliot Smithiano ou Jeff Buckleyano ou... não interessa. É bom!

Chasing my shadow

6.5.05

Já sonho com Ngorongoro IX (Bi Kidude)


Ras Nungwi Beach Hotel, Zanzibar

bin, ou meu querido Jacques Mayol, como não sou o Enzo Molinari, não consigo acompanhar-te nesse mergulho no Grand Blue. Os destroços do Pegasus vão continuar a ser um mistério para mim. O que restará de um barco afundado em 1916 em plena Grande Guerra? Enfim, para não ficar deep blue tento imaginar os mergulhos que faremos no recife de Pange. Corais e peixes tropicais, mergulhos nocturnos, um mar terno, caliente e acessível até a mergulhadores pouco experientes (como eu, que tenho mais pele e olhos que respirações compassadas e lentas). Mas deixaste-me preocupada com o mergulho de hoje, não te escames! Cuidado com os refúgios das moreias - não existem apenas nos livros do Spirou. E espero que não te aventures demasiado pelas profundezas - o Andwele disse-me que em Mombassa têm câmaras hiperbáricas mas que aqui os barcos só estão equipados com kits de oxigénio. Não queiras ser um homo delphinus!

Quanto a mim, não te preocupes. Estou a gostar deste "Desesperadamente à procura de Bagaço em Stone Town". Não imaginas os lugares por onde já andei. É verdade que ainda estranho. Ando solta e desconfiada, curiosa e recatada, com vontade de sorrir a toda a gente e de me deixar queimar pelo sol e ruídos e rezas e ao mesmo tempo, um pouco assustada com este bazar de mundos.

Comecei no Darujani Bazaar e não, não comprei aquelas bugigangas chinesas. Fiz o que me aconselhaste, meti-me pelo labirinto de pequenas ruelas ali à volta... e andei a ver se me perdia! Depois apanhei um dala-dala até ao Forte Árabe. O motorista andava nas faixas da direita e da esquerda mas ninguém pareceu estranhar, pelo que me limitei a inspirar e expirar com força até aquelas voltas me saberem bem! Pelo menos havia ar! Ainda me lembro de ir da Praia ao Tarrafal, em Cabo Verde, numa IACE - a carrinha Toyota "adaptada", em vez de 9, levava uns 20 passageiros! Os dala-dala têm a vantagem de não ter janelas e o tecto faz alguma sombra!


Como já conheces, não te vou falar muito de Stone Town, deixo-te só as razões do meu espanto. Quase todos os edifícios históricos tiveram utilizações muito diferenciadas ao longo do tempo!? O Forte foi usado como tal pelos omanis, depois foi transformado numa prisão, mais tarde os portugueses fizeram dele uma igreja, e agora tem um restaurante e lojas de souvenirs!!! A House of Wonders, residência da raínha Fatuma, foi depois a sede do Protectorado inglês! O Old Dispensary, mandado construir por ocasião do Jubileu da Rainha Vitória, é agora o Cultural Center! No subsolo da Catedral Anglicana podemos visitar as celas dos escravos negros! O Templo hindu Shakti já não tem hindus! Talvez por causa de todos estes filamentos da História, de povos e culturas e religiões, Stone Zanzibar parece-me cada vez mais misteriosa.

Outra coisa, este suaíli é um bocadinho diferente do que se fala na Tanzânia. Na Kelele Square tive alguma dificuldade em perceber o que ouvia! Encontrei depois um guia que me disse que este suaíli é mais "puro". Falou-me do kiswahili, de que deriva o suaíli, que nasceu do casamento de línguas de vários povos - árabes, persas, omanis e dos bantus de zanzibar! Por isso, em Zanzibar, estão mais próximos da origem! Já agora, sabes que kelele quer dizer barulho? Nome que seria certamente apropriado para um mercado de escravos! (agora tem lá um salão de beleza, não é bizarro?)

Quando nos encontrarmos logo, tenho uma mão cheia de perguntas para te fazer, depois de me contares a aventura no Pegasus. Para além do suaíli, do árabe, do inglês, como é que tanta gente também fala italiano? E é verdade que em Pemba se podem ver touradas à portuguesa? (e porque não em Unguja?) Que história é essa da Guerra dos 40 Minutos? Só sei que envolve ingleses e sultões e que consta como a guerra de menor duração da História. Os Banhos Persa Hamamni ainda funcionam? ______Podia continuar a puxar as pontas dos mil e um novelos!

Sabes que esta avidez de saber é falaciosa, não sabes? Os dados novos apenas distraem um pulsar que tenho que conter. Apetece-me suaílar, regatear, mas sobretudo dançar, esquecer o calor e as regras do Islão.

Conheces o Bi Kidude?
Ele vai estar no Mambo Club logo à noite. Vê se chegas cedo. Até porque não sei se encontro o Bagaço! Desde que lançou aquele primeiro livro, nunca mais parou. Às tantas está para aí fechado a escrever o próximo best-seller!

Isto de viajar com um Indiana Jones e um Costa-Gravas é muito divertido mas às vezes é um pouco solitário (schuiff). A POPULACÃO É 95% MUCULMANA E EU SOU MULHER FËMEA USO SAIAS TENHO PELE CLARA OLHOS ESMERALDA VALHO TANTOS CAMELOS QUANTOS OS KM DAQUI ATÉ AO DESERTO DO SAARA! AINDA ME RAPTAM!

Para nem pensares em adormecer quando chegares do teu mergulho heróico, deixo-te esta carta e o leitor de cd's. Pedi na recepção do Hotel para os colocarem no teu novo quarto (também mudei, tinhas razão, é melhor mesmo em frente à praia).Free Image Hosting at www.ImageShack.us

Agora bin, carrega no Play.

Bi Kidude, o rei do taarab, 93 anos, canta Beru

Kwa Heri
Maria

Viajar

Acontece que vieste e sussurraste-me ao ouvido.
Ivar Corceiro
Numa Avenida de Merda


Da Lata cantam Alice no país da malandragem

Do álbum Serious

5.5.05

De tão leve

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Não digo que mentisse: pelo que sei, afirmações do género tanto podiam ser falsas como verdadeiras. Estava provado que de vez em quando passávamos ao largo de um universo (ou que um universo passava ao largo em relação a nós). Italo Calvino, Cosmicómicas


Hay-Kay _____de tão leve pisa sem marcar a pele


O que eu espero_____desconfie de mim em seu olhar não acredite se eu lhe digo não
Canta Nancy Galvão
Às vezes apetece esta insegura e doce leveza.

Um dia

Esse lugar onde não há mentira
É para lá que eu vou
Esse lugar que a lua ilumina
com essa luz que fascina
É para lá que eu vou
Esquecer o barulho
Respirando o ar puro
que sai da flôr
Há gente tão linda...


Canta a paulista Nancy Galvão

1.5.05

InJAZZ


Bernardo Sassetti

Por onde começar? Talvez repetindo os agradecimentos de Sassetti: à CMA, ao Teatro Aveirense e sobretudo a Pedro Santos da ONC - Produções Culturais. Pedro Santos arriscou a iniciativa do InJazz num país onde tudo está centralizado..., houve um problema de público... mas por isso mesmo, porque é importante educar para a cultura, para a música, para o Jazz..., há que fazer uma aproximação, assim, em 6 cidades do país...

E depois, hoje. Não houve um problema com o público. A sala estava cheia. Bernardo Sassetti encheu a sala. E Mário Delgado, é claro.

Mas eu só ouvi o Sassetti. São coisas que não se devem contar. Mas foi tão bom, tão bom, ouvi-lo durante cerca de uma hora e meia, gostei tanto tanto daquele som que saiu de dentro do piano domesticado, que não quis ouvir mais nada. Quis manter a memória daquelas melodias intacta, sem interferências. Saí no intervalo e passei o bilhete a um amigo que assim pôde assistir à segunda parte do espectáculo com os Filactera Redux de Mário Delgado.

Sasseti tocou peças de Indigo (álbum lançado em finais de 2004) e mais umas tantas improvisações precisas - ele tem a certeza das notas que toca - que se inspiraram em John Coltrane, John Lennon e até José Afonso (belíssima a "revisitação criativa" das melodias do Zeca Afonso, desta vez sem Mário Laginha).

Os encores foram muitos, o pianista acedeu sempre, ofereceu inéditos (a banda sonora de um filme, mais uma) e bónus ao público.

Conhecerão o estilo. Intimista, emotivo, louco, contido, melódico. Virtuoso é claro, e mágico. Às vezes tinha a impressão de sonatas a quatro mãos, orquestra e coro. Mas era só ele, Bernardo Sassetti a solo.

Ahhhhhhhh, que bom que foi!